Seria muito importante a organização de um grande debate envolvendo os diversos segmentos- gestores, professores, estudantes dos cursos e docentes das diferentes redes de ensino-, para pensar as necessidades e as possibilidades de uma formação que oportunize a melhoria da educação como um todo. A constatação é de Mariglei Severo Maraschin, coordenadora do Mestrado Acadêmico em Educação Profissional do CTISM/UFSM e diretora do Sinasefe Santa Maria. Ela participou do evento do Grupo de Trabalho de Política Educacional (GTPE) da Sedufsm para discutir “Formação docente e as mudanças previstas na Resolução 04/2024 do Conselho Nacional de Educação”.
A atividade, que ocorreu no final da tarde de terça, 2 de setembro, no Auditório Sérgio Pires, campus de Santa Maria, teve ainda a presença do professor Guilherme Carlos Corrêa, do departamento de Metodologia do Ensino do Centro de Educação da UFSM. O outro convidado, professor Hermann Müller (UFPR), que é diretor do ANDES-Sindicato Nacional, não pode comparecer. A coordenação da mesa ficou a cargo da professora Belkis Bandeira, diretora da Sedufsm e integrante do GTPE daquela seção sindical.
Em uma de suas exposições iniciais, Mariglei criticou o excesso de resoluções para reger a educação, dando ênfase ao caso das licenciaturas. Foram três documentos em menos de 10 anos: 2015, 2019 e 2024. “A cada nova resolução a gente perde um pouco”, disse ela, mas complementando que, no processo dialético, é importante pensar que a luta e a organização de trabalhadores e trabalhadoras são necessárias.
A integrante do GT de políticas educacionais e culturais do Sinasefe SM alertou ainda que as diretrizes da Resolução 04 indicam para uma matriz pensada em competências para o mercado. Mariglei entende que os cursos (de licenciatura) devem fazer reformulações, mas sempre com uma visão crítica, construída de forma coletiva, e não guiadas pela mercantilização.
Mariglei comentou que percebe hoje uma falta de diálogo com o Ministério da Educação, mas que isso não deveria se repetir internamente na UFSM. Nesse sentido, ela questionou se, institucionalmente, está havendo algum tipo de movimentação e debate na universidade sobre essa temática. Para a docente, há uma clara desconexão entre os diversos setores da educação, seja em nível federal, estadual ou municipal.
Lacunas
Guilherme Côrrea, professor do CE/UFSM, e que relatou trabalhar com orientações de estágio desde o final dos anos 90, criticou bastante a Resolução 04. Para ele, uma das principais lacunas da resolução do CNE é que ela não avança em questões que são fundamentais na vida cotidiana de educadores e educadoras. Ele lembra, por exemplo, que as temáticas de gênero ou mesmo étnico-raciais, são aspectos recentes na abordagem das licenciaturas e que docentes ainda não estão devidamente preparados para isso. A constante edição desses documentos, segundo ele, faz com que se passe de um para outro sem profundidade de diálogo. E ainda acrescentou: “O que a gente consegue fazer com essas resoluções dentro de uma escola?”.

Perguntas e reflexões
Na parte final de sua explanação, a professora Mariglei Maraschin lançou algumas questões a serem refletidas pelos presentes. Para ela, as diretrizes da Resolução 04 permitem que se possa refletir, por exemplo, sobre:
– Que professores/as queremos formar?
– Qual o papel dos sindicatos na defesa da educação e na formação de professores/as?
– Que concepção de extensão temos e que queremos para os nossos cursos?
– Como vamos efetivar o estágio, já que ele precisa ser um espaço de formação, aprendizagem e vivências da escola, onde se ensina, mas também se aprende?
– É preciso ter coletivos para pensar políticas educacionais e a formação da universidade, para que não seja uma formação para servir ao mercado, mas que precisa dar conta da realidade das escolas e dos sistemas educacionais.
Belkis Bandeira, junto com a também diretora da Sedufsm, Neila Baldi, criticaram fortemente o conteúdo da resolução do CNE. Para Belkis, a ‘04’ não deveria ser aceita de forma automática e docentes e estudantes dos cursos de licenciaturas precisariam se unir para discutir as implicações dessa medida, que é considerada burocrática e distanciada da realidade formativa.
Neila Baldi defendeu que seria necessário “parar a universidade e discutir as licenciaturas com as e os estudantes”, tendo em vista que, afora a Jornada Integrada (JAI), não há outros momentos para que sejam discutidas as licenciaturas. A diretora da Sedufsm sugeriu que sejam construídos mais espaços entre os sindicatos para debater e apresentar proposições as temáticas que abrangem a educação.
Texto: Fritz Rivail
Fotos: Bruna Hormrich/Sedufsm
